terça-feira, 16 de julho de 2013

Como a planta carnivora Dioneia digere uma presa

por Ann Meeker-O'Connell - traduzido por HowStuffWorks Brasil *
Fonte: http://ciencia.hsw.uol.com.br


Assim que a armadilha da planta carnivora Dionaea muscipula captura sua presa e se fecha totalmente, as folhas formam uma câmara estanque, de maneira que:
  • os fluidos digestivos e as partes do inseto sejam mantidas dentro da armadilha
  • bactérias e mofo não entrem
Para garantir que os insetos fiquem presos dentro da armadilha, as bordas das folhas possuem cílios parecidos com dedos que se enlaçam quando as folhas se fecham. Essas projeções longas e parecidas com pelos fazem com que a planta pareça ter dentes pontudos; mas, na realidade, os cílios são usados somente para trancar a armadilha.
Há um limite máximo para o tamanho do inseto que a armadilha pode acomodar. Em sua maioria, as armadilhas têm 2,5 cm de comprimento e, idealmente, um inseto deve ter cerca de um terço desse tamanho. Se um inseto for muito grande, a armadilha não conseguirá criar uma vedação estanque o suficiente para manter bactérias e mofo de fora. Assim que bactérias e mofo entrarem, eles podem se proliferar enquanto se banqueteiam com o inseto em decomposição e as folhas da armadilha também sucumbirão. A armadilha muda de cor para preto à medida que as folhas apodrecem, e eventualmente cairão da planta.
A dioneia pode tolerar a perda de uma armadilha aqui e ali porque consegue fazer brotar novas. Da mesma forma que um fabricante de produtos domésticos, a natureza projetou as armadilhas com obsolescência planejada. Após cerca de 10 a 12 fechamentos (parcial ou total), as armadilhas perdem a capacidade de captura. As folhas continuam abertas e, em vez de passar pelo ritual de atrair insetos e devorá-los, as armadilhas mais velhas dedicam suas energias para o processo de fotossíntese durante o restante de suas vidas, normalmente entre 2 e 3 meses. Dessa forma, se a armadilha for estimulada repetidamente por objetos não comestíveis, a planta pode recuperar parte da energia e ATP perdidos na abertura e fechamento da armadilha nesse tempo, focando somente na fotossíntese.
Mas, voltando ao jantar, assim que o inseto estiver firmemente aprisionado na armadilha, o processo de digestão pode começar. Agora a armadilha serve como uma miniatura de estômago. Da mesma maneira que com outros estômagos, a armadilha segrega sucos digestivos ácidos que:
  1. dissolvem os tecidos macios e membranas celulares da comida;
  2. servem como anti-séptico para pequenas quantidades de bactérias que tenham entrado inadvertidamente na comida;
  3. digerem, com enzimas, DNA, aminoácidos e outras moléculas celulares em pequenos pedaços que podem ser usados pela planta.

Esses sucos digestivos são segregados por glândulas da superfície interna da armadilha, direto em cima da presa que está nela. O inseto é banhado por esses sucos durante um período de até 12 dias, no qual o inseto é digerido e os nutrientes extraídos. A demora depende:
  • do tamanho do inseto - quanto maior ele é, mais tempo demora para ser digerido.
  • da idade da armadilha - o fluido digestivo é reciclado após cada digestão e as armadilhas mais velhas podem segregar uma mistura um tanto mais fraca de ácidos e enzimas.
  • da temperatura - a temperatura do ambiente pode afetar a taxa de decomposição e, até certo ponto, o aumento de temperatura torna os processo enzimáticos rápidos.
O processo continua até que tudo o que sobra do inseto é seu exoesqueleto duro (ao contrário de seres humanos e outros vertebrados, que possuem um esqueleto interno rígido, os insetos e aracnídeos possuem um exoesqueleto externo mais flexível para proteger e para formar a estrutura de seus corpos). Assim que os nutrientes são retirados do banho ácido, a planta reabsorve o fluido digestivo. Isso serve de sinal para a reabertura da armadilha, e os restos do inseto são normalmente lavados pela chuva ou levados pelo vento.


* Ann Meeker-O'Connell.  "HowStuffWorks - Como funciona a planta carnívora dionéia".  Publicado em 12 de janeiro de 2001  (atualizado em 22 de janeiro de 2008) http://ciencia.hsw.uol.com.br/planta-carnivora-dioneia4.htm  (16 de julho de 2013)

Como funciona a planta carnívora dionéia

por Ann Meeker-O'Connell - traduzido por HowStuffWorks Brasil *
Fonte: http://ciencia.hsw.uol.com.br


O predador espera pacientemente enquanto sua presa passeia, sem imaginar que o perigo está alguns centímetros abaixo. Ao pousar para provar uma seiva de sabor adocicado, a presa inocente comete um erro fatal. Repentinamente, as "mandíbulas" do predador se fecham em volta de seu corpo. A luta é breve e logo a planta começa a digerir sua deliciosa refeição.

Foto cedida por P. Kronenberger
A dionéia conforme ilustrada por Charles Darwin 
Plantas que comem outras criaturas? Parece um experimento genético que deu errado. Mas, na realidade, não há nada anormal nisso: plantas carnívoras existem há milhares de anos. Há mais de 500 diferentes espécies dessas plantas, com preferências alimentares variando de insetos e aranhas a pequenos organismos aquáticos de uma ou duas células. Para ser considerada carnívora, uma planta deve atrair, capturar, matar e digerir insetos ou outros pequenos animais.
Uma planta carnívora em particular atrai a imaginação do público: a dionéia (Dionaea muscipula). Muitas pessoas vêem essa surpreendente  planta em ação nos primeiros anos da escola fundamental, ficando fascinadas pelo estranho hábito alimentar e aparência única.
Você já se perguntou o que aconteceria se colocasse seu dedo nas folhas abertas de uma dionéia ou como a planta recebeu esse nome estranho? Neste artigo, responderemos a estas e outras questões.

Origens da dionéia

Apesar da planta ter encantado pessoas de todo o mundo, na realidade ela cresce em uma área geográfica incrivelmente pequena. Na natureza, ela é encontrada em uma região de 700 milhas ao longo da costa da Carolina do Norte e do Sul. Nessa área, as plantas estão ainda mais limitadas a viver nas áreas de pântanos e úmidas e ensolaradas. Pelo fato da dionéia ser tão rara, alguns botânicos antigos duvidavam de sua existência, apesar de todas as histórias que contavam de uma planta comedora de carne.
Foto cedida por U.S. Geological Survey
O nome

Por que a planta recebeu o nome intrigante de Venus Flytrap (armadilha para moscas Vênus) nos EUA? Não é difícil imaginar que 'armadilha para moscas' se relacione com sua capacidade de capturar insetos, mas 'Vênus' não é claro. De acordo com a Sociedade Internacional de Plantas Carnívoras (em inglês), a origem do nome é um tanto lúgubre. A dionéia foi estudada pela primeira vez nos séculos XVII e XVIII, quando a moral da sociedade era mais puritana do que é atualmente e era um tanto obcecada pelos impulsos e pecados humanos. As mulheres, em particular, eram freqüentemente retratadas como sedutoras e ávidas pelo poder. Aparentemente, os botânicos dessa época encontraram um paralelo entre a armadilha da planta - que captura e digere insetos - com certos aspectos da anatomia e comportamento das mulheres. Dessa forma, conta a história que a planta teria recebido o nome de Vênus, a deusa pagã do amor e do dinheiro.

O que elas comem

Se você assistiu ao musical "A Pequena Loja dos Horrores" ("Little Shop of Horrors"), pode ter ficado com uma péssima impressão do que realmente é uma planta carnívora. Ainda que Audrey, a dionéia mutante do filme, tenha desenvolvido um gosto por seres humanos, a planta real prefere insetos e aracnídeos como:
  • aranhas
  • moscas
  • lagartas
  • grilos
  • lesmas
Homens x dionéia
Ainda que sonhemos com plantas assassinas, nós é que somos o risco real para a continuação da existência daDionaea muscipula e outras plantas carnívoras. A dionéia está ameaçada de extinção na natureza devido a:
  • coleta excessiva pelos aficcionados pela planta
  • drenagem e destruição dos pantanais onde elas crescem
  • poluição
Devido a isso, na Carolina do Norte e do Sul, há pesadas multas para quem retira dionéias de seus habitats nativos. Mas você pode comprar dionéias em qualquer floricultura ou viveiro sem ter receio de ter problemas com a lei.
Se outras plantas podem se desenvolver com gases do ar e com a água do solo, por que a dionéia come insetos? Na realidade, as dionéias obtêm grande parte de seu sustento como as outras fazem, por meio do processo da fotossíntese. Durante a fotossíntese, as plantas usam a energia do sol para impulsionar a reação que converte dióxido de carbono e água em açúcar e oxigênio. O açúcar produzido é então convertido em energia na forma de ATP, por meio do mesmo processo usado por outros organismos para processar carboidratos.
Entretanto, além de sintetizar glicose, as plantas também precisam produzir aminoácidos, vitaminas e outros componentes celulares para sobreviver. Para fazer isso, elas precisam de nutrientes adicionais como:
  • nitrogênio - para sintetizar aminoácidos, ácidos nucléicos,proteínas
  • fósforo - como parte da molécula de transporte de energia a molécula ATP
  • magnésio - como fator coadjuvante que ajuda muitas enzimas a funcionar
  • enxofre - para compor alguns aminoácidos
  • cálcio - como enzima coadjuvante para compor as paredes das células das plantas
  • potássio - para regular a movimentação de água para dentro e fora da planta
Nos ambientes preferidos pela dionéia, o solo é acido e os minerais e outros nutrientes são escassos. A maioria das plantas não sobrevive nesse ambiente porque não consegue fabricar os blocos de construção de que necessitam para crescer. A dionéia desenvolveu a capacidade de prosperar nesse nicho ecológico único encontrando um meio alternativo para obter nutrientes importantes como o nitrogênio. Criaturas vivas, como insetos, são uma boa fonte de nutrientes que faltam no solo, podendo também conter carboidratos, uma poderosa fonte de energia.

Dentro da dionéia

As plantas carnívoras são capazes de:
  • atrair insetos
  • capturar insetos rastejantes pequenos
  • diferenciar entre alimento e não alimento
  • digerir a presa
Todas essas etapas são levadas a cabo por meio de processos mecânicosquímicos simples. Ao contrário de nós, plantas não possuem cérebro ou sistema nervoso para coordenar suas funções fisiológicas e dizer que estão com fome, de forma a ir comprar um sanduíche na lanchonete mais próxima. As plantas também não possuem músculos e tendões complexos para agarrar, mastigar, engolir e processar o alimento. A dionéia executa todo o processo por meio de um conjunto de folhas especializadas que são boca e estômago ao mesmo tempo.

Foto cedida por Peter D'Amato
Uma dionéia da empresa de paisagismo California Carnivores
Sedução da presa

A maioria das plantas possui algum mecanismo para atrair animais e insetos, não importa a maneira como vão se banquetear com seus convidados. Por exemplo, plantas não carnívoras desenvolveram odores intensos ou seivas tipo xarope para atrair abelhas, borboletas e outros insetos; esses insetos são então usados pelas plantas para transportar o pólen necessário para fertilizar as plantas vizinhas da mesma espécie. No caso da dioneia, as folhas que formam a armadilha secretam um doce néctar que atrai os insetos que procuram alimentos.
Captura da presa

Quando um inseto pousa ou rasteja na armadilha, é provável que ele toque em um dos seis pelos curtos e duros da superfície da armadilha. Eles são chamados de pelos sensitivos e servem como um primitivo detector de movimentos para a planta. Se dois desses pelos forem roçados em rápida sucessão ou um pelo for tocado duas vezes, as folhas se fecham sobre o inseto em meio segundo.
O que faz com que as folhas se fechem? Ninguém sabe exatamente como o estímulo mecânico sequencial de um pelo sensitivo é convertido no fechamento da armadilha. A hipótese mais aceita é que:
  1. as células de uma camada interna da folha estão muito comprimidas. Isso cria tensão no tecido da planta que mantém a armadilha aberta;
  2. o movimento mecânico dos pelos sensitivos acionam mudanças, impulsionadas pela ATP (Adenosina Trifosfato), na pressão da água dentro dessas células;
  3. as células são levadas a se expandir pela crescente pressão da água e a armadilha se fecha assim que o tecido da planta relaxa.

Foto cedida por David Webb e Botanical Society of America
Um inseto rastejando nas folhas tipo mandíbula da dionéia
É comestível?

Mesmo sem cérebro para analisar o que está comendo, a dioneia consegue diferenciar entre insetos e detritos não comestíveis que possam cair na sua armadilha. Essa etapa também é mediada por seis sensíveis pelos sensitivos. Um inseto que caia dentro da armadilha parcialmente fechada continuará a se debater na tentativa de escapar. Isso garante que ao menos um (se não todos) dos pelos sensitivos seja tocado pelos movimentos do inseto. Isso é o sinal para fechar totalmente a armadilha.
Objetos inanimados como pedrasgalhos e folhas que caiam na armadilha ou objetos que sejam colocados lá (que criança consegue resistir em colocar a ponta do lápis dentro da armadilha para vê-la fechar?), não se movimentarão, logo não dispararão os pelos sensitivos. Se não houver estímulo adicional do pelo, a armadilha permanece em seu estado parcialmente fechado até que a tensão possa ser restabelecida nas folhas da armadilha. Esse processo demora cerca de 12 horas, ao final das quais as folhas voltam a se abrir. O objeto não desejado cai assim que a folha reabre ou é banido da armadilha pelo vento.
Obviamente, o processo de seleção não é perfeito; enquanto a armadilha estiver fora de funcionamento, alimentos reais na forma de moscas e aranhas podem rastejar pela planta. Imagine se você tivesse que ficar sentado por doze horas com um osso de galinha em sua boca enquanto o restante de sua refeição permanecesse na mesa à sua frente! A diferença é que você tem consciência do que come, enquanto que a dioneia é participante passiva na escolha do que vai comer no jantar. O processo é, na verdade, uma maneira elegante da dioneia resolver dois problemas:
  • falta de um cérebro para informar que está às voltas com algo não comestível
  • falta de músculos para cuspir fora


* Ann Meeker-O'Connell.  "HowStuffWorks - Como funciona a planta carnívora dionéia".  Publicado em 12 de janeiro de 2001  (atualizado em 22 de janeiro de 2008) http://ciencia.hsw.uol.com.br/planta-carnivora-dioneia4.htm  (16 de julho de 2013)

sexta-feira, 12 de julho de 2013

O estranho mundo das plantas carnívoras


Kit para Cultivo de Plantas Carnívoras está à venda na www.lojadojardim.com

As plantas carnívoras são nativas da faixa tropical, ocorrendo no Sudeste Asiático, América e Austrália, algumas no sul da Europa e África. Muito embora existam gêneros ou famílias inteiras adaptados ao clima temperado. As plantas carnívoras foram descobertas pela primeira vez no séc. XVIII, mais precisamente em 1768, quando o botânico inglês J. Ellis chamou a atenção para o espantoso e curioso processo de captura de insetos na Dionaea muscipula. 

Desde essa data, mais de seis centenas de espécies de plantas foram estudadas e adicionadas à lista das plantas consideradas carnívoras. Estas plantas constituem um grupo botânico sem qualquer significado taxonômico, dado que o carnivorismo nas plantas parece ter resultado da evolução convergente, ou seja, ao longo dos tempos a seleção natural foi privilegiando a sobrevivência de plantas oriundas de famílias diferentes, mas que conseguiam capturar e digerir pequenos animais. Apesar desta curiosa capacidade de se nutrir de animais (propriedade que era tida como exclusiva do reino animal), as plantas carnívoras mantêm todas as características de qualquer outro ser vivo do reino vegetal (são plantas verdes onde ocorre fotossíntese). 

Contudo, para assegurar a sua sobrevivência, estas plantas necessitam completar o seu metabolismo com os aminoácidos resultantes da digestão de pequenos animais, que ocorre nas folhas, em zonas glandulares, por intensa atividade de enzimas proteases e fosfatases que digerem as presas. Vários estudos têm demonstrado que a nutrição heterotrófica aumenta o crescimento e desenvolvimento destas plantas e que, em algumas espécies, parece ser essencial para que ocorra a floração, ou seja, a possibilidade de perpetuar a espécie. 

Por esta razão, o carnivorismo nas plantas é encarado como uma adaptação nutricional relacionada com os solos deficientes em azoto, como acontece com as zonas pantanosas e turfeiras onde ocorre a maioria das plantas carnívoras conhecidas. As folhas das plantas carnívoras são normalmente o local de captura das presas, apresentando adaptações morfológicas e fisiológicas mais ou menos especializadas na atração, captura e digestão dos animais. As armadilhas estão, geralmente, recobertas por muco, uma espécie de cola que retém as presas, e podem possuir movimento, aumentando dessa forma a eficácia da captura dos insetos. 

No entanto, não basta ter armadilhas eficazes, é preciso conseguir atrair até elas as presas, assim, é comum as plantas carnívoras exalarem odores característicos, de matéria orgânica em decomposição ou adocicados, que funcionam como chamariz para a maioria dos insetos.

Kit para Cultivo de Plantas Carnívoras está à venda na www.lojadojardim.com

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Plantas carnívoras: Caçadoras em perigo

Fonte: Superinteressante

Kit para Cultivo de Plantas Carnívoras está à venda na www.lojadojardim.com

Capazes de devorar os insetos que capturam, as plantas carnívoras correm o risco de desaparecer porque não sabem fazer outra coisa. Sua salvação depende do homem.

No reino vegetal existe uma área dominada por criaturas que, aparentemente, contrariam uma norma ditada pela natureza. Trata-se do território das plantas carnívoras, onde o império do verde contra-ataca, vegetais devorando bichos - ou melhor, insetos, as principais vítimas das carnívoras. De fato, são pouquíssimas as que incluem em sua dieta animais de maior porte. Quase todas preferem as delicadas mosquinhas, besouros ou borboletas. A exceção fica por conta da corpulenta Nepenthes rajah que vive em Bornéu, uma das ilhas da Indonésia, no sudeste asiático. Ela consegue capturar e digerir passarinhos, lagartos, sapos arborícolas e até mesmo pequenos roedores. Dentro da grande bola esverdeada que lhe serve simultaneamente de armadilha e estômago, encontra-se com freqüência um impressionante amontoado de ossos.
As que realmente gostam de carne de animais são poucas e raras, mas, ainda assim, andaram atiçando a imaginação dos primeiros exploradores de regiões exóticas. Em romances antigos e em filmes ambientados nas misteriosas selvas tropicais, plantas carnívoras ameaçavam saborear mocinhas indefesas e eram implacavelmente retalhadas por caçadores brancos ou pelo infalível facão de Tarzan, o rei da selva. As apavorantes cenas daqueles filmes não passavam de ficção. Mas ficção inspirada em fatos reais, ou seja, nas verdadeiras proezas que cercam a captura de seres vivos, realizadas pelas plantas carnívoras diante dos arregalados olhos dos exploradores.
Entretanto, nem mesmo uma poderosa bateria de armadilhas biológicas, articulada com uma engenhosidade digna de ficção científica, conseguiu preservar essa anomalia botânica - que são as carnívoras - na luta pela sobrevivência. Várias espécies já demonstram sinais de iminente extinção, depois de terem atingido aquele que pode ser o derradeiro degrau de especialização na longa escada de sua história evolutiva.

Em fósseis do Período Terciário foram encontradas estruturas relacionadas com uma dieta carnívora. O achado demonstrou que o fenômeno existe há pelo menos 65 milhões de anos entre alguns vegetais. É portanto tão antigo quanto o aparecimento dos primeiros grandes mamíferos. O que ainda não está bem esclarecido são as origens de tal fenômeno. A suposição mais aceita é a de que, no início, as plantas apenas aprisionavam temporariamente os seres no interior das folhas sem, no entanto, possuir condições de absorver qualquer coisa que fosse dos minúsculos corpos ali retidos. Com o passar do tempo, naquelas folhas teriam se desenvolvido glândulas capazes de envolver o material capturado com substâncias digestivas, tornando-o parcialmente aproveitável como alimento. A nova dieta então deve ter dotado as primitivas carnívoras de um grande poder de colonização em terrenos de baixo teor de nutrientes minerais. Assim, as plantas passaram a retirar de suas vítimas - através das folhas - elementos orgânicos que compensariam tudo aquilo que não obtinham do solo por meio das raízes.
Essa notável artimanha que à primeira vista parece uma grande conquista do reino vegetal revelou um sério desajuste numa de suas engrenagens: um desequilíbrio causado pela excessiva especialização alcançada por algumas delas, em detrimento do poder de competição frente às outras plantas com as quais disputam os mesmos hábitats. Animais e plantas enfrentam ao longo de suas histórias evolutivas o rigoroso teste da seleção natural e só conseguem superá-lo se apresentarem um desempenho satisfatório em várias modalidades de adaptações.

Algumas plantas carnívoras que desenvolveram em altíssimo grau a capacidade de obtenção de alimento colocaram-se diante da seleção natural como um candidato ao vestibular superpreparado numa única matéria. As desvantagens na competição com outras plantas somadas à reduzida tolerância que têm diante de variações climáticas são fatores suficientes para reprová-las. Porém, tudo isso se processa com muita lentidão e a confirmação de que as carnívoras estão em via de extinção deve-se às observações e aos estudos registrados por especialistas durante séculos.
O primeiro cultivo de que se tem notícia é o de uma carnívora americana na Inglaterra em 1637. Tratava-se de uma Sarracenia purpurea coletada num terreno pantanoso do Estado da Virgínia. Como as demais espécies do gênero Sarracenia, ela exibe um longo tubo perpendicular ao solo, encimado por uma pequena aba ou chapéu. Essa, estrutura não passa de uma folha adaptada à coleta de insetos atraídos pelos odores da farta produção de néctar dessa planta. As paredes internas do tubo permitem que os insetos escorreguem para dentro e sejam digeridos pela ação poderosa das enzimas. Em muitas espécies, a posição inclinada da aba ou chapéu acaba formando uma tampa que impede a penetração da água de chuva e a conseqüente diluição das enzimas digestivas. Mas não é isso o que ocorre com a Sarracenia purpurea.
Ao contrário, sua aba levantada é uma coletora de pingos de chuva e o tubo de captura se transforma num poço repleto de água, um paraíso aquático para certas bactérias que decompõem as carcaças dos insetos que ali morrem afogados. A purpurea se utiliza da ação das bactérias como se elas fossem o seu próprio suco digestivo. Os comprimentos dos tubos coletores das Sarracenia variam bastante. Na espécie leucophila, por exemplo, o tubo atinge quase 1 metro e consegue armazenar centenas de insetos. Quando isso acontece, a estrutura coletora não consegue aproveitá-los e a maior parte apodrece sem ser consumida. Em conseqüência, a planta sofre uma espécie de indigestão. A folha tubular fica amarela, murcha e acaba por se desfazer.
Isso, no entanto, não prejudica a saúde da planta, pois, enquanto um dos tubos coletores entra em colapso, já está se desenvolvendo outro, preparando-se para futuros banquetes. O que mais surpreende nas plantas carnívoras é a movimentação rápida de certos órgãos empenhados na captura das presas. Essa curiosa propriedade, compartilhada apenas por algumas espécies, pode confundir um observador e levá-lo a pensar até que elas tenham algum tipo de sistema nervoso. Mas o que de fato acontece é uma reação em cadeia ao longo dos tecidos da planta, acionada por um estímulo químico ou mecânico. Esta esvazia o conteúdo líquido de certa quantidade de células, fazendo-as murchar com extrema rapidez.
Encurvamentos e flexões que parecem articular-se com o auxílio de dobradiças ocultas são obtidos por esse complexo mecanismo de drenagem celular. Movimentos discretos podem ser observados nas dróseras, carnívoras de pequeno porte que digerem insetos depois de estimuladas por substâncias químicas. Suas folhas possuem delicados tentáculos que as recobrem na parte superior e nas margens. Cada tentáculo é coroado por uma glândula que produz uma gotícula cristalina e traiçoeiramente pegajosa.
Milhares dessas gotículas ficam expostos à luz solar, dando a impressão de que a planta está coberta por um manto de cristais. Essa iridescência atrai os insetos para a armadilha. Uma vez apanhado, os próprios movimentos do bicho para se desvencilhar dos tentáculos fazem com que os mais próximos se curvem sobre ele, ajudando a grudá-lo com mais firmeza. Finalmente, as substâncias químicas do corpo da vítima estimulam as glândulas dos tentáculos a segregar enzimas digestivas em lugar de gotículas pegajosas e a dissolver as partes tenras do animal. Mais impressionante ainda é o mecanismo de captura encontrado nas dionéias. Suas folhas se fecham como se fossem duas metades de uma concha aprisionando o inseto com um movimento de dois décimos de segundo. É espantoso que com todo esse arsenal de arapucas as plantas carnívoras não tenham se tornado dominantes num planeta tão superlotado de minúsculos insetos.
Se, para algumas delas, a extrema especialização acabou significando mais um risco de extinção do que uma triunfante técnica de adaptação, hoje suas perspectivas de vida parecem muito mais promissoras. Isso se deve à atuação da espécie humana, que, ao se sensibilizar por essas sofisticadas caçadoras do mundo verde, passou a protegê-las em jardins botânicos e estufas, cultivando-as em todo o mundo. Enquanto existirem os clubes e as associações dos admiradores das plantas carnívoras, pode-se afirmar que ironicamente elas acabaram encontrando nos homens - e não nos insetos - a esperança na luta pela sobrevivência.

Kit para Cultivo de Plantas Carnívoras está à venda na www.lojadojardim.com

Dionaea muscipula, a Vênus Papa-Moscas

  • Ela é uma das plantas carnívoras mais conhecidas. Serviu de inspiração para a criação da personagem Audrey II, a planta carnívora assassina do musical "A Pequena Loja dos Horrores" ("Little Shop of Horrors"), um filme produzido em 1986: é a espécie Dionaea muscipula.



    Nos Estados Unidos a planta recebeu o curioso nome de Venus Flytrap (armadilha para moscas Vênus). "Armadilha para Moscas" é brm óbvio, mas de onde surgiu o 'Vênus' ? De acordo com a Sociedade Internacional de Plantas Carnívoras, a dionéia foi estudada pela primeira vez nos séculos XVII e XVIII, quando a moral da sociedade era mais puritana do que é atualmente e era um tanto obcecada pelos impulsos e pecados humanos. As mulheres, em particular, eram freqüentemente retratadas como sedutoras e ávidas pelo poder. Aparentemente, os botânicos dessa época encontraram um paralelo entre a armadilha da planta - que captura e digere insetos - com certos aspectos da anatomia e comportamento das mulheres. Dessa forma, conta a história que a planta teria recebido o nome de Vênus, a deusa pagã do amor e do dinheiro.

    Que dieta! A Dionaea muscipula pode viver até 20 anos!

    Planta herbácea, a Dionéia é nativa das regiões pantanosas do sudeste dos Estados Unidos. Trata-se de uma planta pequena, atinge de 10 cm a 15 de altura, que produz folhas dispostas em roseta. Suas folhas apresentam um formato peculiar de armadilha - divida em dois lóbulos, como uma mandíbula com 15 a 20 longas estruturas em forma “dentes” nas bordas. O pecíolo apresenta formato achatado, de cor verde e tem a função de sustentar a mandíbula e fazer a  fotossíntese.
    Na parte interna da armadilha, de coloração vermelha, a planta produz néctar para atrair os insetos. É ali que também ficam os pêlos sensitivos, cuja importante missão é detectar a presença do inseto possibilitando a ação da armadilha: em uma fração de segundos a armadilha se fecha e o inseto aprisionado começa a ser digerido lentamente. A estrutura é tão complexa que é necessário que pelo menos dois pêlos sensitivos sejam acionados sucessivamente em um curto espaço de tempo para que a armadilha funcione. Existe uma razão essencial para a existência deste mecanismo: ele evita que a planta gaste energia com o fechamento da armadilha à toa, como com uma gota de chuva, por exemplo.
    Depois que a armadilha se fecha, em seu interior, glândulas especiais  começam a produzir enzimas digestivas. Terminada a digestão da presa, a armadilha lentamente vai abrindo, sendo possível visualizar alguns restos do banquete. A digestão dura cerca de 10 dias. Este processo pode acontecer cerca de 3 vezes com cada armadilha. Depois disso, elas são substituídas por novas folhas.
    A floração da planta acontece na primavera, quando surgem pequenas e delicadas flores brancas.
    A dionéia deve ser cultivada sob bastante luminosidade, em substrato preparado à base de musgo esfagno, turfa e perlita, levemente ácido e mantido constantemente úmido. Não é recomendado o cultivo em terra e nem é necessário fazer adubações, pois há o risco de intoxicar a planta. Além disso, resista à tentação de alimentá-la: jamais coloque pedacinhos de carne ou insetos mortos, deixe que ela mesmo capture suas presas. Alguns especialistas indicam que é possível dar uma forcinha para a dionéia colocando perto dela uma banana ou pedacinho de maçã para atrair mosquinhas. Mas sem neurose se ela não caçar nada, pois ela não depende apenas disso para viver.
    A água das regas deve ser livre de cloro - para eliminá-lo basta deixar a água em descanso por 48 horas. Outra opção é usar água mineral ou da chuva. As dionéias são capazes de tolerar encharcamentos, mas detestam secas. Outro detalhe importante: evite ficar brincando com as armadilhas, fazendo-as fechar à toa pois, como já foi dito lá em cima, a planta gasta muita energia para abrir e fechar a armadilha. 

    Detalhes

    Objetos inanimados como pedrasgalhos e folhas que caiam na armadilha ou objetos que sejam colocados lá de propósito (enfiar um lápis ou palito dentro da armadilha só para vê-la fechar !!), não se movimentarão, logo não dispararão os pêlos sensitivos. Se não houver estímulo adicional do pêlo, a armadilha permanece em seu estado parcialmente fechado até que a tensão possa ser restabelecida nas folhas da armadilha. Esse processo demora cerca de 12 horas, ao final das quais as folhas voltam a se abrir. O objeto não desejado cai assim que a folha reabre ou é retirado da armadilha pelo vento.


  • FICHA DA PLANTA
  • Nome Científico: Dionaea muscipula
  • Nomes Populares: Dionéia, Dionea, Vênus-papa-moscas, Vênus-caça-moscas
  • Família: Droseraceae
  • Categoria: Plantas Carnívoras
  • Clima: Mediterrâneo, Subtropical, Temperado, Tropical
  • Origem: América do Norte, Estados Unidos
  • Altura: até 10 a 15 cm
  • Luminosidade: alta
  • Ciclo de Vida: Perene

Saiba Mais:

A imagem de plantas carnívoras assassinas e comedoras de humanos está muito longe da realidade. Na verdade são elas quem devem temer os homens - por apresentarem risco real para a continuação da existência tanto da Dionaea muscipula como de outras plantas carnívoras. Elas estão ameaçadas de extinção na natureza em razão de:
  • coleta excessiva pelos apreciadores das plantas
  • drenagem e destruição dos pantanais onde elas crescem
  • poluição
Em virtude disso, nos EUA, especialmente na Carolina do Norte e do Sul, existem pesadas multas para quem retira Dionéias de seus habitats nativos. Mas você pode cultivar suas próprias plantas carnívoras com o Kit Completo da www.lojadojardim.com

terça-feira, 25 de junho de 2013

Verde que mata

Fonte: Revista Galileu

As estratégias de caça de algumas das plantas carnívoras mais estranhas do mundo são perturbadoras, muito além do que os botânicos poderiam imaginar

Monstruosas comedoras de 
homens. Devoradoras de donzelas. Flores do mal. Desde que a ciência encontrou as primeiras pistas de que algumas plantas tinham uma queda por carne, surgiram histórias terríveis sobre o que pode estar escondido nas selvas distantes. Muitos leigos engoliram relatórios sobre plantas que comem humanos e flores com sede de sangue, mas naturalistas tiveram dificuldade em aceitar a idéia de que vegetais poderiam ser carnívoros. Nos anos 1770, o naturalista sueco Carl Linnaeus descartou a hipótese como sendo "contra a ordem da natureza". Mesmo um século depois, quando Charles Darwin relatou suas observações sobre plantas que capturavam e devoravam insetos, alguns ainda se recusaram a acreditar. Um botânico achou a noção tão ofensiva que definiu os estudos de Darwin como "lixo científico".
Desde então, biólogos têm se acostumado com a idéia de que algumas plantas comem animais. Mas mesmo eles não podiam imaginar as novas descobertas sobre um grupo de plantas carnívoras, as nepentes, que estão mandando para o ralo algumas crenças antigas. Experimentos cuidadosos, vídeos em alta velocidade e muito trabalho duro nas florestas de Bornéu, na Indonésia, estão revelando que essas plantas são muito mais capciosas e ativas na hora de aniquilar suas presas do que jamais se suspeitou. Existem até indícios de que algumas plantas carnívoras possuem "estratégias de caça" parecidas com as de animais predadores.

"Plantas carnívoras têm sido estudadas por tanto tempo que seria possível imaginar que tudo já tivesse sido descoberto", afirma Walter Federle, que investiga a biomecânica de insetos na Universidade de Cambridge. "Mas botânicos trabalharam principalmente com espécies herbárias ou plantas em estufas. Estudos conduzidos sob condições naturais estão mostrando um lado totalmente novo sobre o modo como as plantas carnívoras capturam e matam suas presas."
Com suas bocas entreabertas e marcas em vermelho-sangue, as nepentes têm uma aparência apavorante e podem capturar uma grande variedade de bichos, a maioria insetos, mas também aranhas, escorpiões, centopéias, lesmas, sapos e, até mesmo, um rato. Ainda assim, suas armadilhas não são sofisticadas quando comparadas às de outras plantas carnívoras.
A dionéia se fecha sobre insetos desprevenidos em uma fração de segundo, a drosera efetivamente abraça suas vítimas com armadilhas do tipo "papel pega-mosca", enquanto a utricularia ostenta armadilhas de sucção explosiva. 
Dionéia
Norte-americana, tem rizomas que se enterram em profundidades de até 10 cm, o que faz com que ela sobreviva a incêndios florestais
Como ela mata
Seduzir para assassinar. Essa é a tática da dionéia, que exala um néctar que atrai os insetos. Pêlos táteis funcionam como radar e indicam a proximidade de uma possível presa. Quando isso ocorre, a mandíbula se fecha com força, muita força. Tanto que alguns insetos morrem pelo impacto, e não pela ação dos líquidos segregados pelas glândulas digestivas da planta

Mesmo com toda a sua aparência repugnante, a nepente parece estar equipada apenas com a mais básica das armadilhas, a "cilada" passível. Pelo menos era o que pensavam os botânicos.
A maioria das cerca de cem espécies de nepentes cresce em florestas úmidas do sudeste da Ásia, geralmente em solos pobres ou como epífitas - plantas que vivem sobre outro vegetal, mas sem "roubar" nutrientes. Para complementar sua alimentação, elas capturam e digerem animais em cavidades cheias de fluido. Essas bolsas são folhas altamente modificadas e, apesar de variarem muito em tamanho e forma - de tubos do tamanho de um dedo a enormes jarros de 3 litros -, todas seguem um mesmo padrão. A boca tem as extremidades - ou peristômios - bem pronunciadas, com glândulas que produzem néctar logo abaixo da borda interior, que atrai a presa para a cavidade. Por dentro, as paredes são organizadas por zonas. A zona superior é macia e encerada, enquanto as paredes abaixo da superfície da cavidade com fluido são pontilhadas por glândulas que produzem enzimas digestivas que ajudam a dilacerar os cadáveres das presas afogadas.
Nepentes
Natural da Ásia, especialmente da Indonésia, esse tipo de planta é encontrado em mais de 70 espécies
Como ela mata
"Cuidado, piso escorregadio." Todo exemplar de nepente deveria vir com esse aviso. Vista de fora, ela parece inofensiva, com seu aspecto de cachimbo com tampa. Mas o néctar produzido pelas suas glândulas e o cheiro de possíveis animais decompostos em seu interior acaba atraindo seres incautos. Recoberta de um líquido pra lá de viscoso, a fenda da planta impossibilita que qualquer coisa pare em pé ali sem escorregar para o interior da urna. Lá há um líquido no qual as presas encontram o pior dos infernos. Segregada pelas glândulas digestivas, a substância dissolve um inseto rapidamente. O prato predileto das nepentes são as formigas, mas elas também degustam aranhas, rãs e até ratos.

Estudos anteriores concluíram que a zona encerada era uma parte crucial do mecanismo de armadilha. Apesar de as patas dos insetos geralmente poderem agarrar na mais lisa das superfícies, aqui eles são derrotados pelos cristais de cera que se soltam quando tocados. Em experimentos feitos em laboratório, nem formigas, nem moscas conseguiram manter as patas sobre a zona encerada. Inapelavelmente caíram dentro do fluido.
A cera também barrou a saída de todas que tentaram escalar para fora novamente. Ainda assim, Federle percebeu que não poderia dar o caso por encerrado. "Insetos freqüentemente caem e passam direto pela extremidade e para dentro do fluido, sem nem mesmo tocar na camada com cera", afirma ele. E mais: algumas espécies de nepentes não têm uma zona encerada, enquanto outras têm algumas cavidades com e outras sem. Mesmo assim, ambas são efetivas na captura de presas.
Na busca por uma explicação, Federle e seu colega Holger Bohn viajaram para as florestas pantanosas de Brunei, a noroeste de Bornéu. O plano era observar o comportamento de diversas espécies de formigas nas nepentes bicalcaratas, um tipo com cavidades sem cera.   
Infelizmente, houve pouca coisa para relatar. Como outros pesquisadores constataram anteriormente, é raro testemunhar o exato momento em que a planta captura o inseto. A maioria das formigas que vagou sobre uma cavidade saiu de novo sã e salva. Então Federle e Bohn tiveram uma revelação. Retornando ao seu campo de estudo, logo após uma chuva forte, eles ficaram espantados de ver todas as formigas que pisaram sobre a extremidade da cavidade escorregarem, sem saída, para dentro do fluido abaixo. No interior das cavidades, muitas outras formigas lutavam para boiar, indicando um influxo repentino e recente.
A razão era óbvia, mas completamente inesperada. Os peristômios das cavidades estavam particularmente molhados e brilhantes. Isso é raro, pois geralmente eles repelem a água na forma de gotas que rolam para fora. Há algo de diferente na química da superfície do peristômio que o torna altamente absorvente. Quando Federle pingou água sobre um peristômio seco, ele descobriu que ela se espalhava em segundos para formar uma película sobre a superfície.
De volta para casa, em experimentos em laboratório, ele e Bohn descobriram que essa película de água destruiu o apoio de uma formiga, evitando um contato mais próximo entre suas patas e a epiderme da planta. Como pneus de carros em uma estrada molhada, insetos sobre um peristômio molhado aquaplanavam diretamente para a entrada da cavidade. O efeito era tão dramático que Federle ficou espantado por ninguém ter percebido isso antes, mesmo que pesquisadores anteriores tenham, na verdade, colocado a extremidade como parte do mecanismo de armadilha. Não é "escorregadio... Pequenos insetos podem andar livremente sobre ele", um deles escreveu. "O peristômio parece oferecer um apoio seguro para grande parte dos visitantes invertebrados", concluiu outro. Claramente eles não haviam presenciado uma nepente em condições de umidade.
Mais investigações mostraram que o mecanismo do peristômio quando molhado é igualmente importante para as espécies de nepentes que têm paredes interiores enceradas. Na alata, por exemplo, Bohn e Federle descobriram que as paredes enceradas ajudavam a capturar presas quando o peristômio estava seco. Quando estava molhado, entretanto, a maioria das formigas caíam diretamente no fluido, e a taxa de capturas triplicava. "Nós suspeitamos que a aquaplanagem fora do peristômio é a armadilha fundamental. Outras estruturas de armadilha estão ausentes em algumas nepentes, mas a extremidade está presente em todas as espécies", diz Federle.
A tática de deslizamento da cavidade não é a única que foi revelada recentemente. Na França, a ecologista Laurence Gaume, da Universidade de Montpellier, e o físico Yoël Forterre, da Universidade de Provence, descobriram outro mecanismo inesperado e que se apóia nas propriedades peculiares do fluido da cavidade. Como Federle, Gaume estava intrigada pelo fato de as cavidades sem paredes enceradas serem bem-sucedidas na captura de insetos. Ela também havia estado em Brunei para estudar as cavidades, dessa vez da nepentes rafflesiana, uma espécie comum com um amplo espectro de presas. Gaume percebeu que o fluido da cavidade era viscoso e que filamentos fibrosos se formavam quando ela o esfregava entre os dedos. Ela também percebeu que insetos que caíam dentro desse fluido descobriam que era impossível sair dele. Em vez de repelir o fluido, eles logo ficavam molhados e afundavam. Gaume suspeitou então que o fluido possuía propriedades inusitadas que auxiliavam na captura e retenção da presa.
De volta à França, Gaume se juntou a Forterre para investigar. Eles rejeitaram qualquer tipo de ataque químico rápido: no laboratório, os insetos saíram do fluido, se secaram e seguiram seu caminho. A tensão da superfície também não entrou na conta: os insetos afundariam mais rapidamente se o fluido tivesse uma baixa tensão na superfície. Uma terceira possibilidade era o fluido ser composto por tensoativos, o que ajudaria a molhar os insetos. Os pesquisadores descartaram isso também quando descobriram que apenas insetos em movimento ficavam molhados e se afogavam. Se insetos imobilizados fossem atirados no fluido, eles permaneciam secos. Isso sugeria que quaisquer que fossem as forças, elas eram iniciadas pelos insetos.
Imagens em alta velocidade confirmaram que algo estranho acontecia. Jogadas dentro de um tubo de ensaio com água, moscas voaram para fora em segundos, e as formigas nadaram para as laterais e subiram. Ainda assim, quando jogadas em tubos com o fluido, nenhum inseto escapou.
"Primeiro eles lutavam", diz Gaume. "Logo começaram a ficar cobertos pelo fluido e impossibilitados de mover asas ou levantar patas." Em um momento especial da filmagem um filamento pegajoso visivelmente reprimiu a perna de uma mosca. Também ficou evidente que, quanto mais um inseto lutava, mais rápido era pego, como se estivesse preso em areia movediça.
Drosera
Só não há esse gênero de planta na Antártida. Seu nome vem do grego e significa "coberta de orvalho"
Como ela mata
Aqui, a armadilha é similar à do papel pega-mosca. O inusitado é o sistema de atração. Aos olhos dos insetos, essas gotículas que brilham ao sol parecem um refrescante orvalho. Só percebem o truque quando já estão atolados até a alma nessa gosma grudenta. Tentar fugir só piora a situação, pois os movimentos do inseto estimulam a planta a lançar novos tentáculos sobre o bicho, que termina seus dias completamente envolvido pelo muco transparente que sai da drosera. Depois de "embalado", o inseto é conduzido até o centro da planta, onde ficam as glândulas que segregam o líquido digestivo que vai fazer com o bicho a mesma mágica que o café com leite opera em bolacha maria.

Forterre percebeu que o comportamento do fluido era típico de líquidos complexos que contêm longas cadeias de polímeros, conhecidos como fluidos viscoelásticos. Qualquer movimento a partir do fluido deforma os polímeros, alongando-os como se fossem pequenas molas e gerando neles forças elásticas. Se o movimento cessar, os polímeros podem relaxar: "Se o movimento é lento, as forças elásticas têm tempo para relaxar, mas, se for mais rápido do que o tempo de relaxamento, elas podem alcançar valores enormes", afirma Forterre.
Suas medições mostraram que insetos que caem dentro do fluido movem seus membros tão rapidamente que as forças elásticas continuam crescendo. "Parece que estão nadando em geléia", diz Gaume. Para tornar as coisas ainda piores, enquanto a vítima tenta colocar um membro para fora do líquido, traz junto uma trilha de fluido que, em vez de se dispersar em gotas, estica, criando um filamento elástico. "Os filamentos são como cordas elásticas, que são difíceis de serem rompidas pelos insetos", diz Forterre.
Para as plantas que crescem em hábitats chuvosos, uma armadilha baseada em fluido elástico tem uma outra vantagem: continua funcionando mesmo quando muito diluído. Nesse caso, é eficiente mesmo com apenas 5% de sua concentração original. "Você precisa de apenas uma baixa concentração de polímeros para obter um efeito elástico", afirma Forterre.
Os pesquisadores estão agora investigando a química do fluido e suspeitam que ele possui polissacarídeos, assim como a goma de outras plantas viscoelásticas. Também querem saber qual a incidência dos fluidos em plantas carnívoras. "Temos informação preliminar que sugere que muitas espécies de nepentes podem usar uma armadilha elástica", diz Gaume. "É uma característica oculta. Pode ser mais comum do que imaginamos."
Para Federle, essas descobertas indicam que pode haver plantas carnívoras com outros meios de matar presas que ainda não foram descobertos: "Nós achamos que o peristômio úmido é provavelmente universal, mas há uma série de mecanismos para a retenção de presas". Para Gaume e Forterre, as descobertas aumentam a possibilidade intrigante de as cavidades não serem armadilhas tão passíveis como todos pensam. "As nepentes podem não mostrar um movimento tão dramático como o de outras plantas, mas o mecanismo de armadilha também é baseado em forças elásticas ativadas pelo movimento de um inseto", conta Gaume.
Utricularia
Encontrada nos cinco continentes, essa planta é das mais variadas, com alturas que podem atingir de 10 cm a 1 m
Como ela mata
Não se deixe enganar pela aparência singela. Essa planta é uma assassina eficiente e rápida. De suas bolhas ovais saem pêlos sensíveis ao toque. Coitado do inseto que tocar num deles. Com seu interior a vácuo, a utricularia abre a bolha e aspira brutalmente o condenado para o seu interior. Depois, mais calminha, a planta passa horas digerindo a presa. Em um ou dois dias, a armadilha está pronta para ser utilizada novamente

Os últimos estudos de Federle deram peso a essa idéia. Em 2005 e 2006, ele retornou a Brunei com Bohn e seu colega Ulrike Bauer e colocou sensores nos peristômios de exemplares de nepentes rafflesiana. Monitoramento dia e noite revelou que havia um ciclo diurno distinto de umidade, tivesse chovido ou não. Na maior parte do dia, as cavidades tinham as extremidades secas e não capturavam nada, mas, no começo da noite até logo cedo de manhã, elas ficavam molhadas e eficazes nas armadilhas.
A dramática mudança diária de umidade não era um simples resultado da condensação da água quando a noite esfriava. O time também observou um aumento na quantidade de néctar à noite, e seus experimentos mostraram que esse néctar é higroscópico, ou seja, absorve umidade do ar. Essas descobertas deixaram Federle confuso. Por que uma planta carnívora teria desenvolvido um mecanismo para armadilhas que funciona apenas intermitentemente? Ele acha que esse aparente defeito pode ser parte de uma estratégia para aumentar o número de insetos capturados.
Botânicos acreditavam que plantas carnívoras estavam sempre com as armadilhas prontas. Federle mostrou que esse não é o caso da nepente. O momento de a armadilha ser acionada varia não apenas entre o dia e a noite, mas também de acordo com o clima, quando as plantas crescem e o néctar é segregado. Federle diz que essa improbabilidade pode não ter evoluído pela mesma razão que animais predatórios caçam apenas intermitentemente, para tornarem mais difícil para suas presas desenvolver recursos e evitar a captura. "A improbabilidade é importante para as nepentes", diz Federle. "Formigas visitantes podem pisar sobre uma extremidade inofensiva ou escorregadia. Elas só não podem saber a situação antes de pisarem."

terça-feira, 18 de junho de 2013

As Espertas Plantas Carnívoras




Audrey II e A Pequena Loja dos Horrores

A comédia musical "A Pequena Loja dos Horrores", um filme produzido em 1986, tem como personagem principal nada menos que uma planta carnívora completamente descontrolada, que espalha verdadeiro pânico numa pequena cidade dos Estados Unidos, devorando pessoas na floricultura onde vive. A planta do filme, chamada Audrey II, foi inspirada na espécie Dionaea muscipula e retrata bem a imagem exagerada que se tem destas plantas interessantes.

As plantas carnívoras são fruto da evolução de certas espécies que buscaram uma forma de sobreviver nos solos pobres em nutrientes orgânicos. Essas plantas passaram a retirar do ambiente o complemento alimentar que a terra não lhes fornecia. As primeiras plantas carnívoras que surgiram na Terra desenvolveram métodos para aprisionar e digerir animais e, assim, utilizar suas proteínas - ricas em nitrogênio - como fonte de nutrientes. Estima-se que isso tenha ocorrido há cerca de 65 milhões de anos - na época dos dinossauros!

Acredita-se que as plantas carnívoras evoluíram a partir de plantas que capturavam parasitas para se defender deles, como no caso do Plumbago. Os insetos ficavam presos nas glândulas colantes das folhas e, com o tempo, morriam e apodreciam. Daí, as novas carnívoras especializaram suas folhas, distribuindo glândulas colantes por toda sua extensão para melhor capturar as presas. O interessante é que elas evoluíram também para atrair as presas. Dessas folhas colantes, de ação passiva, evoluíram folhas de ação ativa, mais complexas, como as armadilhas da Dionaea (dionéia), os ascídios das Nepenthes e Sarracenia e até as esquisitas armadilhas subterrâneas/aquáticas da Utricularia e Genlisea.

Em um certo ponto, as enzimas que normalmente realizam a digestão de proteínas em sementes teriam sido transferidas para outras regiões da planta, assim se especializando na digestão das pragas capturadas, tornando-se plantas competitivas nos solos pobres em nutrientes.

Atração fatal
 
Dionaea muscipula

Atualmente, são conhecidas mais de 500 espécies de plantas carnívoras, espalhadas pelo mundo. No Brasil, existem mais de 80 espécies diferentes. Somos o segundo país do mundo a possuir mais espécies de carnívoras; o primeiro é a Austrália. Aqui, elas crescem principalmente nas serras e chapadas. Podem ser encontradas em quase todos os estados, sendo mais abundantes em Goiás, Minas Gerais e Bahia.

As plantas carnívoras crescem em solos pobres em nutrientes - a maioria em solos encharcados (como brejos), de pH baixo (ácido), às vezes pedregosos. Ao contrário das flores, que atraem e às vezes até prendem insetos para garantir a polinização, as plantas carnívoras têm como comportamento típico a necessidade de atrair, capturar e digerir pequenos seres do reino animal. Muitas carnívoras atraem suas presas da mesma forma que as flores atraem seus polinizadores: com formas, cores, substâncias químicas e odores. Outras se aproveitam dos padrões de luz ultravioleta de suas armadilhas para atrair insetos voadores.

É comum encontrarmos na literatura o nome "insetívora" para estas plantas, mas muitos dos estudiosos sobre o assunto discordam e afirmam que tal termo não é correto. Insetos são o principal elemento de seu cardápio, mas a dieta das carnívoras pode ser bem variada, incluindo desde organismos aquáticos microscópicos, moluscos (lesmas e caramujos), artrópodes em geral (insetos, aranhas e centopéias) e, ocasionalmente, pequenos vertebrados como sapos, pássaros e roedores.

As plantas do gênero Nepenthes são as que possuem as maiores armadilhas, podendo chegar a meio metro de altura cada e armazenar até 5 litros de água! Estas plantas com freqüência capturam presas grandes. Na verdade, supõe-se que os vertebrados tornam-se presas acidentalmente: ao procurar por insetos presos nas armadilhas, em busca de alimento, os mais debilitados não conseguem escapar e acabam passando de predador à presa.


Nepenthes khassiana

De jaulas a folhas colantes Há vários tipos de armadilhas utilizadas pelas plantas carnívoras para capturar suas presas:

* As armadilhas "jaula" são as mais famosas por ser a própria representação da ação carnívora por meio de vegetais! As folhas são divididas em duas partes, como se fosse uma boca, com gatilhos no interior. Ao ser tocado pelo inseto, o gatilho aciona um mecanismo que fecha as metades da folha em incríveis frações de segundo. Elas só voltam a se abrir após as enzimas terem digerido o animal. A propósito, tais enzimas proteolíticas são fracas e, por isso, inofensivas à pele humana e aos animais de médio e de grande porte. Esse tipo de armadilha é encontrado na Dionaea (Dionéia) e Aldrovanda. A dionéia é a mais popular e ativa das plantas carnívoras; tem folhas de 8 a 16 centímetros. O inseto capturado é digerido pelas glândulas digestivas da folha da dionéia durante 5 a 15 dias.


Dionéia

* Armadilhas de "sucção" são utilizadas por todas as espécies de Utricularia, pois elas vivem submersas em água doce ou brejos. Essas espécies possuem pequenas 'bolsas' (utrículos), cada qual com uma minúscula entrada cercada por gatilhos que quando estimulados provocam a abertura dessa entrada. Em razão da diferença de pressão entre o interior e o exterior da 'bolsa' quando a entrada é repentinamente aberta, tudo ao redor é sugado para dentro, incluindo a presa que estimulou o gatilho.

* Armadilhas do tipo "folhas colantes" são as mais simples e encontradas em algumas famílias sem parentesco próximo. Basicamente, são glândulas colantes espalhadas pelas folhas ou até pela planta toda. As presas são, na maioria das vezes, pequenos insetos voadores. Esse tipo de armadilha é encontrado em Byblis, Drosera, Drosophyllum, Ibicella e Triphyophyllum. Dentre estas, a Drosera apresenta movimento nas glândulas, às vezes na folha toda, enrolando-se sobre a presa para colocar mais superfície em contato com ela, de forma a ajudar a digestão e a subseqüente absorção. Com folhas de 2 a 35 centímetros, com longos pêlos glandulares, semelhantes a tentáculos que segregam líquido pegajoso, brilhante e com odor de néctar, elas se curvam para prender os insetos e raramente reagem a um movimento que não seja o de uma presa em potencial. Quanto mais o inseto se debate, mais preso fica pelo líquido viscoso, que contém as enzimas digestivas. Os nutrientes do animal são absorvidos em cerca de 5 dias. Após isso, a folha se desenrola, pronta para nova captura.

* "Ascídios" são folhas altamente especializadas, inchadas e ocas, que se parecem urnas ou jarras, com uma entrada no topo e um líquido digestivo no interior. Também podem estar presentes em algumas famílias sem parentesco próximo: Cephalotus, Darlingtonia, Heliamphora, Nepenthes, Sarracenia, etc. Capturam desde pequenos vertebrados até minúsculos invertebrados. As presas caem no líquido digestivo, ali se afogam e são digeridas. Seus restos se acumulam no fundo, às vezes enchendo a armadilha até o topo! A Darlingtonia, por exemplo, é popularmente chamada de planta-jarra. As folhas, inicialmente delgadas, adquirem forma tubular. As maiores chegam até 90 centímetros de comprimento, assumindo finalmente o aspecto de jarra, com ápice alargado. A jarra é provida de nervuras vermelhas e funciona como armadilha. Os insetos caem no líquido que se acumula no interior da urna em função da cera adesiva que existe na parede interna da parte superior da jarra. Esta espécie é encontrada normalmente em barrancos úmidos e nas margens dos rios. Sua principal característica é o fato de usar bactérias para fazer a digestão dos insetos que aprisiona.

Como cultivar as principais plantas carnívoras


Nepenthes albo marginata

Antes de falar sobre os cuidados específicos das principais carnívoras, é importante tratar sobre o substrato usado para o cultivo. O solo deve ser basicamente pobre em nutrientes, de pH baixo (ácido). A exceção fica por conta de algumas espécies de Pinguicula, que necessitam de pH alto. Não há exatamente um consenso entre os cultivadores no que diz respeito ao substrato que deve ser usado. Alguns utilizam a mistura de pó de xaxim e musgo (do gênero Sphagnum) em partes iguais; outros preferem uma mistura de: pó de xaxim, musgo e areia em partes iguais. Para eles, a areia melhora a drenagem do solo, tornando-o mais próximo do tipo de solo do habitat natural de algumas carnívoras. A areia deve ser de rio e não do mar (pois contém muitos sais, prejudiciais a estas plantas). Esta areia deve ser bem lavada, até que a água escorra de cor clara. Com o passar do tempo (em média 2 a 3 anos), o musgo se decompõe, sendo necessário replantar a carnívora em um novo substrato. Tanto o pó de xaxim como o musgo são ser encontrados em lojas de produtos para jardinagem.

Dionéia
Necessita de muita luz, calor e umidade. O ideal é mantê-la em um local onde receba um pouco de sol direto por dia. Recomenda-se manter o substrato sempre úmido, regando duas vezes ao dia ou mantendo o vaso em um pratinho com água (sempre sem cloro). Não há necessidade de adubações.

Para obter novas mudas em casa: Retirar mudas laterais que se formam com o tempo e plantar em outro vaso. Outro método simples é retirar uma folha saudável, sem a parte da "boca", e deixá-la deitada em um vaso com a mistura descrita acima. Mantenha num local sem luz direta, com o substrato sempre úmido até surgirem novas mudinhas. A multiplicação por sementes e por meristema são métodos bem mais complicados para serem realizados em casa.

Droseras
Conhecidas popularmente como dróseras, elas possuem um líquido parecido com cola que cobre suas folhas e atrai os insetos pelo do seu odor. Os cuidados são os mesmos recomendados para as dionéias, resumindo-se em muita luz, calor e umidade. Não há necessidade de adubações.

Para obter novas mudas em casa: As dróseras se multiplicam com muita facilidade por meio de sementes que se soltam quase o ano todo. Só é necessário colocar as mudas novas em outros vasos preparados com o substrato.

Sarracênias
Os cuidados são os mesmos recomendados para as dionéias e dróseras. Não há necessidade de adubações.

Para obter novas mudas em casa: As sarracênias multiplicam-se por meio da divisão de touceiras. A nova muda deve ser plantada num vaso pequeno preparado com o substrato.

Nepenthes
A Nepenthe é uma das poucas plantas carnívoras que se adapta à meia-sombra: gosta de local sem sol direto, mas com muita luminosidade. Recomenda-se regá-la de duas a três vezes por semana. Embora existam controvérsias, alguns cultivadores indicam uma adubação mensal com uma mistura de farinha de osso com torta de mamona.

Para obter novas mudas em casa: A multiplicação é feita por meio de estacas: corte um pedaço de 15 cm da planta com 2 a 3 folhas. Espete 5 cm da estaca para dentro do substrato.